DANÇANDO E ENCONTRANDO – LOUCURAS SÃS
Querendo fazer das dores e suas marcas algo concreto.
Buscando uma janela que seja, uma porta, uma fresta.
Preciso de ar, preciso olhar lá fora.
Preciso ver que nada acabou.
Que chances podem ser colhidas
como flores à beira do caminho
Meio que dançando, num ritmo desconhecido mas envolvente.
Parece que um som me guia, me transporta.
Um ar fresco me acalma o temor
Não é tarde, não, não é!
Pareço falar com tanta gente
Pareço me comunicar descontroladamente
Alguém me ouça
Não é tarde, não, não é!
Tenho noção da fantasia
Mas o que seria de mim sem o sonho?
Sem o devaneio?
Sem a esperança?
Chega de só razão, razão e razão
Chega de ser um “animal-máquina”. Não é mesmo Descartes?
Chega de ser José. E agora? E agora? Não é mesmo Drummond?
Pra que tanta métrica não é Camões?
Pra que tanta preocupação com a forma, meus amigos parnasianos?
Se os símbolos podem me ajudar a chegar ao desconhecido
E por sinal esse desconhecido sou eu mesmo.
Os labirintos estão aí
Senhas, signos, códigos
Não é, Édipo? Alice?
Vou dançando, vou de olhos fechados
Me chamem de insano, me chamem do que melhor o ego de vocês ficar saturado de orgulho por terem encontrado uma definição perfeita pra meu estado crônico-deliroso
Não é absinto, não é haxixe, viu ultrarromânticos?
Não é tuberculose, não é a morte.
É a busca, é o encontro.
Vejam, vejam só!
Não é tarde! Não é tarde!
Estou solto. Preso talvez a mim mesmo.
Mas solto para encontrar a chave
E abrir-me, e dizer-me livre.
Solto, mas em busca de liberdade
Preso, mas ciente do ciclo da vida.
Como teclando um piano vou comunicando infinitamente
Vou dançando, vou falando
Vou silenciando, vou ouvindo
Vou decifrando, vou me encontrando
Elementos, cores, símbolos, realidades vão me guiando
Não é tarde! Não, não é!
É o que tenho a dizer
Aos crédulos e incrédulos
Aos tripulantes e aos que acenam
Aos simpatizantes e aos críticos
Aos livres, aos libertos.
Ao mundo. A mim. A você. A nós.
Não é tarde! Não, não é!
(Fernandes Pereira)
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